O grande Aquiles “de pés velozes”, como era conhecido no mundo antigo, é um personagem fundador do imaginário grego que rompeu as barreiras do tempo, imortalizado pela Ilíada de Homero, poema épico datado do século VIII a.C. Foi relevante na formação do espírito cívico do homem arcaico e manteve sua influência em alta até o momento em que a individualidade do guerreiro, o comportamento político nas cidades e o caráter educativo do discurso poético entraram nos debates da ágora.
Filho do mortal Peleu e de Tétis, a nereida “de pés prateados”, é renomado pela honra heroica e por suas conquistas nos campos ílios, cenário dos episódios sangrentos da guerra de Troia. De temperamento impiedoso, explosivo, vaidoso e, ao mesmo tempo, mimado e sensível, Aquiles, ao longo de todo o poema, surpreende pela agressividade e minúcia com que lida com as situações da guerra. Seu comportamento diante das paixões que o tiram e o levam de volta à luta é revelador do caráter do herói.
Diferencia-se de Odisseu pelo fato de seguir a ética de seus pensamentos, sem manipulá-los partidariamente em seu favor. Vai até o limite das sagradas leis do Olimpo para vingar a morte de seu melhor companheiro, Pátroclo, mas sabe reconhecer, no momento certo, quais são as fronteiras que separam a sua fúria indomável do comportamento civilizado, como quando devolve o cadáver do príncipe Heitor a Príamo por respeito à honra do rei troiano.
O herói preenche o leitor atual de Homero e o próprio homem grego arcaico com suas reflexões sobre o kléos (glória) dos mártires, quando põe em xeque o verdadeiro valor da vida de um herói ou quando se ressente da falta de gratidão e da desonra a que é submetido. Ao se retirar da guerra de Troia, logo no Canto I da Ilíada, Aquiles se revela indispensável no campo de batalha. Radical e trágico, como aponta Teodoro Rennó Assunção (“Ulisses e Aquiles repensando a morte”, 2003), Aquiles usa de força e coragem para recuar da guerra e reclamar sua honra.
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